2008/03/08

Dia do insólito

Se eu pudesse escolher como ser perseguído, escolhia ser alvo de uma obsessão sexual de uma rapariga fogosa de 20, 22 anos, talvez morena de cabelos loiros encaracolados. Infelizmente não posso. Chatice. Em contrapartida tenho sido alvo de uma perseguição constante por parte do senhor insólito. É verdade. A situação estranha insiste em palmilhar o terreno por onde passo. Sou uma pessoa normal como muitas outras. Quem me conhece sabe que não sou dotado de poderes paranormais nem sou capaz de prever o destino num período de dois minutos (ver o filme Next) no entanto a frequência com que me vejo no meio de cenários astronomicamente parvos é somente igualada pela futilidade das novelas da tvi. Encontro-me na estação de autocarros do Porto, na Paços Manuel. Para quem não tá a ver é aquela javardice perto do restaurante Abadia, ora cá está um restaurante com um belo nome, só pelo nome já dá para imaginar o cenário. Um bando de gordos a regojizar o almoço de duas horas à base de fritos e diversa cozinha do tipo engorda. À entrada um drogado mendiga moedas com um olho fechado e o outro em regresso de uma viagem recente. Ao fundo da estrada encontramos dois funcionários de estacionamento a operar sobre viaturas de alta cilindrada. Enfim, um cenário acolhedor. Saco do telemóvel e reparo que a minha mãe me tentara telefonar, dirijo-me naturalmente à cabine telefónica que se encontra dentro da estação, insiro duas moedas, perfazendo um total de 40 cêntimos, (a vida tá cara) e reparo que o aparelho mecânico electrónico não está com vontade de proceder ao seu funcionamento habitual. Sou de uma maneira habilidosa e educada roubado pela PT. Como sou uma pessoa normal não acho grande piada ao facto de ser assaltado de uma forma tão flagrante como esta. É incrível as vezes que estas máquinas não funcionam, a mim parece-me muito conveniente. É estranho ela não fazer como aquelas maquinas de casino e dar um valente jackpot. Já que tem a fantástica capacidade de se enganar podia tirar férias e converter o engano em favor do cidadão. Mas não, coitadinha da máquina. Volta e meia este aparelho de furto especializado lembra-se e desencadeia a táctica mensal de colecta de fundos. Depois não admira que a PT venha com anúncios fantásticos na TV. Dirijo-me ao funcionário da Rodonorte e peço-lhe muito educadamente que coloque um aviso na máquina para que a colecta de fundos desta semana não seja de grandes lucros para a PT. A resposta foi simples e efectiva, a maquina é da PT não é nossa, não somos nós que temos de por avisos. Deu a resposta e riu-se como se estivesse a falar com alguém possuidor de uma doença mental limitadora do arquitectar de raciocínios de índole básica. Eu com toda a tranquilidade de quem acabara de ser roubado retribuo o sorriso com um seco, pois claro não é vossa, assim como o dinheiro também não é vosso... ele fica a olhar pra mim. Curioso nesta altura já não se riu. Balbuciou umas quaisquer palavras de uma maneira rude às quais eu respondi com um cínico sorriso. Nesta altura entendi o ditado quem ri por ultimo ri melhor. Eu gostava de saber os paradigmas segundo os quais são efectuados os cálculos mentais destas aves de rapina. Se eu estivesse a cagar em cima da cabine telefónica será que ele me iria dizer alguma coisa? Ou será que iria sorrir e dizer olhe se precisar de papel pra limpar o cu é na segunda à direita.? E se eu me peidasse ao passar por ele e lhe dissesse de uma maneira educadamente cínica, ah este arroz de marisco deixa-me o cu que nem uma sapateira... Depois sorria acrescentando o que vale é que o ar é de todos... Que é que ele dizia?
Sentei-me na esperança de momentos mais sossegados e um pouco mais sanes. Pouco depois reparei que tinha pedido demais. Uma velhota falava na minha direcção, gesticulava com uma maneira particularmente serena, sorria de uma maneira assíncrona e tornava-se verdadeiramente assustadora quando intercalava os sorrisos com silêncios espaçados e alterações de humor abruptas. Eu aproveitei os headphones, o leitor de mp3 e decidi aumentar o volume até não ouvir quaisquer vestígios de palavras loucas. Seria agora que o sossego iria chegar? Pois está claro que não. Um fiscal de rua (aka drogado) veio ter comigo inquirindo sobre possibilidade de ser presenteado com uma moedinha. Dirigi-se nos seguintes modos, pxi ou? Tás a oubir? Eu olho para ele e rosno um mal disposto sim? Ele olha com olhar vago e diz arranja-me uma moeda! Eu ainda fiquei em dúvida se ele estava a gozar, mas pouco depois reparei que ele estava mesmo a dar ordens. Eu não aguentei e respondi-lhe no meio de uma risada parva e sonora, pois tá claro! Ele ficou meio alucinado a olhar pra mim e voltou com um então a moeda? Eu olhei para ele sem dizer nada e esperei que ele continuasse a vida dele. Ele virou o olhar, agiu como se nada fosse voltando-se pra velhota que me vizinhava dizendo. Arranja-me uma moedinha? Eu ri-me. Afinal o gajo aprende rápido. Afinal havia mesmo de lhe ter dado a moeda, o rapaz merecia. Quanto mais não seja pela lição de funcionamento da psique humana. Sagacidade a esta gente não falta. E se não estou enganado as moedas também não devem ser assim tão escassas...
Acho que por hoje é tudo.

1 comentário:

Su disse...

hahahha`
És demais B...hehe