Apareceste vinda do nada. Tal e qual uma folha de outono que cai cansada sobre o chão que se reveste daquele castanho alcatifado por milhares de outras folhas já rendidas. Os dias de outono são tipicamente tristes. São revestidos de um melancólico saudosista. Os dias de Outono remetem-me para longe da realidade, dou frequentemente por mim a divagar em fantasias excêntricas e não lhe consigo encontrar um padrão. Mas tu apareceste. Os dias passam e vão ficando cada vez mais frios, rígidos, a humidade adensa-se e é cada vez mais frequente a chuva que escorre pela janela dos nossos quartos. Eu vejo-te recorrentemente por essa janela.Caminho sozinho pelas ruas, observo pormenores, há por todo o lado marcas visíveis de acontecimentos insólitos. Há alguém que deixa cair uma peça de roupa pela janela, alguém que tropeça numa pedra saliente da estrada, há alguém que grita, alguém que saboreia o café compenetradamente como se aquele liquido preto soubesse ao som harmonioso da harpa. Há alguém que me olha. Onde estás tu? Continuo a saga do quotidiano, o dia tende naturalmente a morrer sob o leito sereno das águas do mar e eu procuro-te por lá. Fazia muito tempo que não chovia, há já bastante tempo que não sinto o escorrer frio e ávido das gotas da chuva. Fecho os olhos esaboreio o momento. Estás aqui comigo, és a chuva que fugiu, o brilho intenso dos últimos raios do sol. Respiro o mais profundamente que posso e sinto todo o odor de que é feito o ar que me rodeia. Tento trincar os cheiros com a alma, fugir com as fragâncias do momento, para mundos longínquos onde te sinta. Mantenho os olhos fechados faço força e tento-me libertar. Procuro a todo o custo ouvir o som do mundo, as vozes caladas dos pequenos seres que sobrevoam céu. Ouço a pomba que conversa com as nuvéns e tento descodificar a seu sinfónico poema, no seu quotidiano a sua filosofia de vida, faço um esforço maior e dou por mim um ser alado. Também eu tenho asas, também eu posso voar. Rodopio ao som do imaginário e estico o braço em direcção ao teu, toco o meu dedo no teu e pinto o tecto na capela Sistina do meu imaginário. Saltoem voltas acrobáticas em furtos aleatórios e abundantes deloucura. Sinto o êxtase do momento, o torpor, o embriagar de sentimentos e sensações. Abro os olhos e não vejo nada. Fecho evolto a abrir de novo. Faz-se luz. Eu acordo para a vida, tu desapareceste, amanhã vou-te procurar de novo...
2007/11/28
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