2004/11/12

Amanheceu...

E assim, de repente, todo um mundo se abriu para mim...

Hoje é sexta-feira. Acordo invariavelmente cedo. Pela
primeira vez em dias, semanas, meses, vejo o nascer do sol. Acordo
com uma serenidade ímpar. Desperto após uma noite de tranquilo
repouso na minha habitual cama. Abro os olhos muito devagar com um sorriso rasgado na cara. Apetece-me gritar! Tenho a cabeça à roda, sou atropelado de pensamentos que surgem de todo o lado. Reflito, penso, em nada! Dou por mim a olhar o vermelho do céu que se confunde com o cinza das nuvens, não conseguindo articular um
movimento sequer! Sou apoderado de uma força maior que me obriga a permanecer impávido mantendo um ar incrédulo! Sinto um aumento no batimento cardíaco! As pernas tremem levemente enquanto penso mais uma vez, em nada, em tudo! Passam diante mim imagens várias da minha curta existência. Momentos como os da minha alegre infância seguidos de retratos fugazes da minha adolescência, culminando em monótonos episódios da minha recente vida de adulto trespassam-me à velocidade da luz! Por breves momentos, toda a minha vida académica é revista em imagens sobrepostas que passam diante mim como que reflectidas na semi transparência do vidro, pelo qual eu acompanho o movimento dos pássaros que circundam um cenário, o qual atentamente observo! Sinto uma energia interior que cresce dentro de mim! Gozo de um relaxamento psicológico único! Sinto-me livre! Sinto uma capacidade maior de compreender o mundo! Sinto-me capaz de viver! Sinto-me bem! Todos os medos, receios que se apoderam de nós, todas aquelas frustrações adquiridas ao longo de uma apagada vida são agora esquecidos! À medida que vai passando o tempo, acompanho com um olhar fixo, transparente, o movimento constante do sol, aprecio o desaparecer do vermelho que dá lugar ao azul! Acordo! Desperto, para a vida! Sentimentos vários assolam agora o meu coração! Sentimentos de medo, culpa, amor, fraternidade cumplicidade e esperança são simultaneamente bombeados pelas artérias de todo o meu ser! Renasce dentro de mim uma vontade enorme de dar, sinto um desejo infinito de doar todo o meu ser! Acompanhando todo este frenezim de emoções reparo na lagrima que me escorre pelo rosto e que cai solitariamente sobre a madeira do chão! Penso porque? Procuro incessantemente a razão que justifique o surgimento daquela gota! Gota de emoções que percorreu toda a minha cara! Gota de vida, de felicidade, prazer! Imediatamente após dou por mim articular a primeira expressão após longo período de aparente paralesia! Olho, revejo tudo à minha volta. Lembrei no espaço de 10, 15 minutos toda a minha vida! Vivi nestes momentos breves todas as emoções que tivera até então! Subitamente tudo faz sentido e uma lufada de lucidez varre-me abruptamente. De repente, num único momento, tudo faz sentido. Concluo, meio incrédulo, atónito, que acabara de me apaixonar. Reparo brilhantemente que para mim tudo amanheceu...


É tarde...

É tarde para que??

É tarde. De acordo com o relógio que e transporto comigo posso ver
que já pouco falta para a uma da manhã. Dou comigo sentado,
sozinho à entrada de minha casa a escrever num pedaço de folha
azul. Encontro-me numa daquelas alturas em que necessito de falar
com alguem, esse alguem és tu, pequeno pedaço inerte de papel.
Tenho a mente apoderada de ideias turvas, emoções várias. No meio
de tanta confusão, de tantos sentimentos obscuros somente uma
ideia se repete. É tarde Sinto que é tarde, sinto
que já não vou a tempo. De quê? Não sei! Sinto uma incapacidade
assustadora para responder a mim mesmo. Vejo com certa
incredulidade este meu estado. Como é possível? Mais uma vez não
sei! Não sei se é pelo sono, pela constipação que carrego mas não
consigo entender porque é que sou constantemente bombardeado com
este pensamento. Por mais quanto tempo tenho que aguentar o
surgimento destas ideias malucas? Será que vou permanecer nesta
pseudo insanidade infinitamente? Não, basta! Estou cansado de
divagar. Estou farto de voar por mundos obscuros de emoções e
irracionalidades. Está na hora de me compreender! Já é
tarde? Não, de modo algum. Nunca é tarde para nos
descobrirmos. Nunca é demasiadamente tarde para perceber o que se
passa no nosso universo. Não é tarde para parar. Não
é tarde para repensar a vida para mudar o meu futuro! Não
é tarde, jamais! Nunca foi, nem o é, tarde para
dizer o quanto espaço tens reservado em meu coração. Não é
tarde para me assumir perante a vida, para viver sinceramente
comigo próprio. Cansei de ter vergonha de mim mesmo. Estou exausto
após uma continuada e longa recriminação de todos os meus
sentimentos! Não posso continuar a mutilar o meu ser, a
racionalizar o irracionavel. Tenho que parar antes que seja
tarde demais. Tenho que sorrir para a vida e pensar que é
cedo. Tenho que recuperar o optimismo que me fugiu! Tenho que ser
eu! Tenho que ser feliz. Não é tarde, é cedo...