2007/06/29

Agradecimentos

Quando criamos algo que nos leva tempo, dedicação, trabalho e muito, muito suor, sentimo-nos na maior parte das vezes realizados por sermos capazes de criar tal obra, sentimos algo gratificante, um cheio na alma. Isto acontece todos os dias e nos diferentes cenários da sociedade. Quando um escritor finaliza um livro ou um realizador acaba um filme são exemplos da ideia que apresento. O senhor dos aneis levou quase uma década a ser construído, o que sentirá o realizador ao fim deste tempo todo de dedicação!? Eu no lugar dele sentia-me ao mesmo nível do senhor Tolkien. Sentia-me grande, sentia-me feliz, realizado. Sentiria um propósito maior a guiar a minha vida. Sentia-me orgulhoso por ter deixado um legado tão grande ao cinema e o maior presente alguma vez dado ao senhor que criou o mundo do anel. O que sentirão os cientistas ao serem reconhecidos pelo seu trabalho ao favor da humanidade? Qual será a sensação ao receber um prémio Nobel ao final de anos de investigação? Como será que se sentiu Vasco da Gama quando chegou à India? E os astronautas que pisaram pela primeira vez a lua? O que é que se sente ao ver a terra a partir de um outro planeta? Deve ser qualquer coisa de extraordinário. Só de imaginar o suor que subjaz uma viagem espacial dá-me arrepios. É interessante ver os pólos do ser humano. Como ao mesmo tempo existe gente capaz do pior, fazendo guerra, atentados terroristas, gente corrupta, fútil, egoísta, mesquinha, com inveja do vizinho e por outro lado gente capaz de criar mundos mágicos, gente capaz de dar a vida em função de uma razão maior de um propósito que não eles próprios e os seus interesses. Como é que tudo isto se encontra definido na mesma espécie? Porque é que estas duas categorias de seres são capazes de acasalar e gerar descendência? Pior, como é que estas duas categorias de seres são, muitas vezes, encontradas numa mesma pessoa?! Provavelmente porque só eu faço tal distinção, provavelmente por não ter legitimidade por categorizar o comportamento humano da maneira que o faço. Mas faço-o. Não acredito que seja o único. Assim como diferenciamos o bem do mal, o certo do errado, eu generalizo a ideia criando categorias, classes de comportamentos, de pessoas e personalidades neste mundo cheio de personagens. Uma categoria que me apraz conhecer é aquela dos escritores de ciência, gostava de partilhar convosco algumas notas introdutórias nas obras de alguns senhores.

To my wife 2E:
The love of my life and best friend till the end—
you are my sunshine.

In:
Programming Role Playing Games
With Directx 8.0
By:
Jim Adams



To the many readers, whose questions, comments, and corrections
have made this edition not just possible but inevitable.

In:
Data Compression. The complete reference
By:
David Solomon
To Adam, Brett, Robbie
and especially Linda
In:
Algorithms
By:
Robert Sedgewick


Como estes há mais, muitas mais dedicatórias feitas. Não deixo de achar piada sempre que leio isto. É verdade que na maior parte das vezes, para não dizer sempre, as familias amigos e restantes alvos de dedicatórias nunca chegarão a ler as obras. Mas na verdade não é isso que conta. O que não deixo de achar piada é pensar no trabalho que dá escrever 500 ou 1000 páginas de ciência, com teoria, prática, com observações, conclusões, textos onde se resolvem problemas, onde se definem estratégias e filosofias de trabalho capítulos onde se revelam mundos e onde o primeiro passo da grande jornada começa com uma dedicatória tão banal quanto “to my wife and best friend…”. Acredito que ela nunca venha a saber que ele lhe tenha cedido aquelas palavras. Mas também acredito que para o autor aquilo seja uma significativa prova de amor, uma excêntrica maneira de dizer amo-te. Apesar de parecer um pouco despropositado este tipo de dedicatórias neste tipo de bibliografia, eu, estranhamente, acho mais piada do que a uma cena romântica de cinema entre o senhor Clive Owen e a Angelina Jolie. Eu acredito que não seja o único a ver estas notas introdutórias de uma forma tão romanceada. Acredito que a maioria das pessoas que lê estas pequenas linhas esboce um sorriso de esperança. Acredito que a maior parte das pessoas fique com vontade de criar algo e de agradecer da mesma forma aqueles que mais estima. Acredito que este seja um dos genes dominantes na espécie humana…