2007/07/19

Desejo-te assim...



Acordo vagaroso, olho em volta e vejo enublado. Fecho os olhos e imagino o relógio a andar para trás, acordo de novo e caio em mim. Levanto-me sem pressas olhando o relógio que rodava com uma cadência morosa, parecia que entendia o meu estado de alma. Parecia que sabia que me apetecia voltar ao leito que acabara de deixar. Esfrego os olhos e dirijo-me à janela, olho em volta e vejo agora as nuvens que apadrinham a intensa chuva que me cai imediatamente à frente. Deixo que o cair monótono das pequenas gotas me levem no seu movimento descendente, sinto-me imediatamente a voar em queda livre em direcção ao infinito, sinto a gravidade e o vento na a roçar na cara.
Abro os olhos e reparo no teu sorriso tratante e pergunto, com um sorriso rasgado, o que andavas a fazer no meio daquele pesado ambiente chuvoso. Tu ris e voltas a cara e não respondes, em vez disso tiras a maçã que trazias embrulhada naquele vestido da noite anterior. Estavas completamente ensopada, viraste costas e voltaste a sorrir. Eu aproximei-me de ti e roubei-te pequena a peça de fruta, tu ripostaste tentando reave-la. Em vão. Deixei cair a maçã ferida e agarrei-te com força, senti toda a água que trazias. Tu empurraste-me para trás e sorriste ao veres falhada a tentativa de te libertares. Eu voltei a agarrar o teu embriagado vestido e senti o movimento das gotas em direcção ao chão. Encostado a ti senti o aquecer húmido do teu vestido gerado pelo contacto cúmplice do meu corpo no teu! Peguei em ti e pousei-te no colo, tu sorriste. Olhamos os dois em direcção à janela e vimos o fio de água que as gotas do vestido tinham gerado, olhamos de novo um para o outro e deixamos cair o nosso olhar na mesma direcção, vimos no brilho do outro a origem das gotas, vi na tua expressão ocular o estreito fio de água. Repetimos de novo o beijo e navegamos na chuva que nos tapava do mundo...