2007/10/18

De olhos bem abertos...


Há dias em que custa sempre um pouco mais manter os olhos abertos. O sol nem sequer se vê, as nuvens tapam todo feixe de luz que tenha ideias de nos trespassar a vista, apesar de tudo a luminosidade é incomodativa, faz com que aquelas pequenas rugas que temos na testa ganhem proporções fora do normal. Detesto estes dias, a gente quer andar com um sorriso rasgado e o máximo que acaba por conseguir é um riso amarelo à David Caruso, não é que tenha alguma coisa contra o homem, mas a verdade é que já está na hora de alguém dizer a este senhor que boa disposição simpatia e um pouco de humor não dão assim tanto trabalho e acabam por melhorar o nosso estado de espírito e o dia acaba sempre por nos correr da melhor maneira. Apesar de semicerrados os olhos, da inerente dor de cabeça devido à ausência de chapéu este dia correu de uma maneira tremendamente vulgar. Na verdade e de um modo paradoxal estes dias acabam sempre por ser especiais. Há sempre algo que quebra a monotonia, alguém que diz o disparate do século, há sempre oportunidade para esquecer o nome de alguém que trabalha no mesmo local que nós e passar por alguns segundos de um constrangimento estupidamente divertido. Há sempre uma hora do dia em que paramos para comer aquela sandes mista que nos sabe pela vida, o fiambre transforma-se em leitão e o queijo sabe melhor que um dos melhores laticínios franceses. Há sempre um pequeno pormenor que nos escapa há sempre uma novidade, algo novo que aprendemos, há alguém que nos confunde com um familiar e disserta as mais recentes novidades do seu primo que acabara de casar com uma gaja de profissão dúvidosa. Há a vontade de rir, de chorar, de cantar, de dançar, de não conseguir dançar porque a meio da tarefa a palhaçada inesperada sobrepõe-se aos passos de dança mecânicos. Há sempre alguém que nos desilude, há aqueles nos alegram, que nos aborrecem, mas nem mesmo aqueles que nos aborrecem são totalmente desprovidos de interesse. Quem é que nunca realizou uma curta metragem de terror à custa de certas e determinadas individualidades? Quem é que nunca desejou ver pendurado pelo pescoço aquele gajo que teima em vir contar as novidades da equipa de rugby da selecção da nova zelandia? Há dias chatos de facto, mas mesmo assim não deixam de ser dia, não deixa de haver luz e esperança que um dos feixes de protões nos leve para longe que nos transporte através da magnitude dos sonhos e nos deixe em estações paradisíacas! Quem nunca sonhou estar nas caraíbas a ouvir Zacarias Ferreira? (a parte do zacarias ferreira vai concerteza causar impacto) Podemos não ter passado as nossas férias nas caraíbas, podemos nunca ter tido sequer um mar translúcido como companheiro amigo que nos acolhe naquele espectante e melancolico por do sol de que nos lembramos sempre antes de deitar. Podemos não ter nada até. Mas temos a luz do sol, temos aquela sensação incomodativa do excesso de luminosidade que nos faz acordar para a vida. Que serve para nos lembrar que a RayBan existe já há muito tempo e que os olhos são feitos para se abrir, que nos mostra a possibilidade de consumir tudo o que nos rodeia, faz-nos sentir antes de deitar que tudo aquilo vivido naquele naquele foi chato, foi difícil foi até um caos, mas não deixa de ser único, não deixa de ser uma experiência e não deixa de ter luz.