A pergunta que se faz é:
2008/01/20
Insólitos messenger...
A pergunta que se faz é:
Feiticeiro caracol...
Hoje chove. Não como nos restantes dias, neste a água parece querer furar o chão. Cai com uma força incrível, bate no passeio como a querer-se vingar na sua existência. Faz frio, é um daqueles dias em que a gente acorda e vê tudo branco coberto de geada, infelizmente aqui não há. Na minha terra natal, a estas horas está tudo como que coberto de neve. Adoro a sensação de estar deitado na cama e sentir o abraço dos cobertores, o apoio materno da almofada. Fecho os olhos e imagino-me um caracol. Encolho-me o mais que possa e tento esconder-me do mundo. Aqui neste quarto nu, dentro destas quatro paredes eu sou único. Mais ninguém é caracol como eu. A sensação de conforto aumenta a cada gota que bate na janela. Sempre que ouço um assobio do vento arrepia-se-me a pele e fico mais sensivel ao calor febril que me envolve. Nestas alturas adoro dormir sozinho e não ter de partilhar o meu casulo de caracol com mais ninguém. Não tenho despertador e na verdade não sei o que é pior, se ter uma maquina a ditar o nosso levantar se o facto de ser-mos nós a fazê-lo. Enquanto se fazem horas a chuva vai moderando de intensidade e eu vou despertando. A sensação é sempre a mesma, uma tranquilidade, relaxamento que apazigua. Eu gosto. Levanto-me e dirijo-me para a janela, o céu está cinzento triste, o sol não se vê. Ao longo das compridas ruas pessoas andam apressadamente, tolhidas, tentando evitar o mais que possam a chuva que os persegue. Dá-me vontade de ir para a cama. Quero ser de novo caracol. Tomo um banho relaxante, limpo toda sujidade nocturna e preparo para me transformar em feiticeiro. Visto a roupa habitual e escondo-me debaixo da volumosa casaca. Saio de casa e percorro o trajecto do costume até ao meu local de trabalho. Enquanto a chuva me bate na cara eu torno-me invisível. Olho para as pessoas e imagino como seria passar pelo meio delas. Um enorme prédio faz-me percorrer o dobro da distância. Como seria se eu pudesse atravessar pelas paredes da enorme massa cinzenta? Ao passar a primeira fila de cimento dou de caras com um casal vestindo-se apressadamente anda, vamos, dentro em breve chega o teu marido, aproveito a situação e aplico um dos meus poderes mágicos ao infiel da zona, teve diarreia o resto do dia. Para lá do segundo bloco de tijolos encontrei uma menina pequena a preparar-se para as aulas. Estava a preparar o lanche da manha e acabava apressadamente alguns dos trabalhos que fora encarregada de fazer. É hora de aplicar a minha segunda magia, está um dia horrivel para esta menina sair de casa, faço o telefone tocar, a menina atende e ouve olá fala de casa da dona Conceição? -Sim, quem é? -É da escola primária, era para avisar que hoje não há aulas a menina sorri, atira com os cadernos para o chão e volta para a cama. Ela ao menos pode ser caracol. Sigo em frente, cada vez mais adoro fazer feitiços. No apartamento seguinte tenho um quarto vazio é de um estudante universitário concerteza. Dormiu fora. Das duas uma, ou lhe calhou a sorte grande e agora está com a sua caracoleta a fazer caracoizinhos ou então está a fazer de roupa velha, bébedo e enxarcado encostado nalguma valeta suja. Pela arrumação do quarto está a fazer caracóis. Que feitiço hei-de aplicar aqui? Nesta altura lembro-me do que é chegar a casa depois de uma noite atribulada. O que a gente dá por um bom banho, e uma cama quente? Este rapaz tinha deixado a janela aberta e o quarto estava uma bagunça. Assim não fica difícil saber o que fazer. Num ápice toda a água desaparece, a temperatura aumenta e a porta abre-se foda-se que saudades que eu tinha da minha cama... Aahhhhhh... Bons sonhos. Acabo de atravessar todo o prédio e chego finalmente ao meu destino. Deixo o feiticeiro de lado e volto à normalidade. O que serei amanhã?