2004/11/04

Sorte Nula...

Ora bem, antes de começar com visões pessimistas do mundo eantecedendo todas as pragas que vou rogar, é bom notar que está umdia lindo, daqueles dias em que não temos alternativa senãoacordar bem dispostos a não ser que não tenhamos dormido sequer.Exactamente, foi precisamente isso que se passou. Com um nascer dosol belo como o de hoje não tive nem sequer três horas de sonocontínuo que me dariam a paz e sossego necessárias para poderapreciar condignamente o dia que se apresenta, enfim é a vida.Deixando de falar de coisas bonitas, o assunto que me traz hoje àvolta do teclado é bem diferente do habitual. Sento-me aqui hojepara mostrar a minha indignação perante a sorte de um amigo meu.Não se preocupem, porque não morreu ninguém, no entanto, a sortenão parece estar mesmo com ele. Este indivíduo de que vos falo,teve a felicidade de romper o ligamento cruzado e está agora emrecuperação. Esta alegria de acontecimento teve origem no pavilhãodesportivo da Universidade de Aveiro, enquanto se realizava umencontro amigavel de futebol. A uma dada altura do jogo o felizardo apanha abola, e quando roda o corpo para a lançar para a frente caisubitamente. O primeiro pensamento que me surgiu foi o seguinte, tamos a perder e este cabrão deita-se pro chão a rir. Nãoforam necessários cinco segundos para mudar radicalmente deopinião e para ficar bastante receoso. Depois de verificar que nãoera capaz de se deslocar, eu e a cambada levamo-lo ao hospital,lugar onde recebeu os primeiros cuidados e o parecer de um médico,que diga-se, foi bastante optimista. No dia seguinte eu e elefomos fazer umas análises, deram-nos a bela notícia que tinha apior lesão no joelho que existe. O passo a seguir tem lugarnuma clinica de análises, fomos lá com o objectivo de realizar uma ressonância. ao joelho, que ficou pela modesta quantia de 258 euros.Se há coisa que eu gostava que me explicassem é o valor destaressonância, nunca imaginei que brincar com umas maquinas quetiram imagens pudesse ser tão caro, enfim estamos em Portugal, é asaúde à portuguesa. Passada uma semana foi operado. Começou adesgraça. O rapaz ja vai no quarto dia pós-operatório e ainda não conseguiu o sono a que toda a gente tem direito. Estes últimos dois dias viveu em minhacasa e tentou dormir no meu quarto. Sim digo tentou, porque asdores eram tantas que ele acabava sempre por acordar sem nuncapoder descansar a pobre cabeça! Eu como estava num colchão bastante proxímo da cama onde ele repousava acabei também porsofrer as consequências. e tive as noites bastante agitadas. Para além daincapacidade de dormir, ele vê-se ainda limitado no que dizrespeito à sua mobilidade. Como não é capaz de dobrar a perna,todos os movimentos de agachamento tem que ser auxiliados, quandose levanta da cama precisa de ajuda, quando se senta precisa deajuda, quando se lava precisa de ajuda, não pode sair de casa,porque as dores são insuportáveis, enfim leva uma vida de preso.Nunca pensei que a saúde fosse capaz de nos aprisionar, mas vendoo estado lastimável em que este meu malfadado amigo se encontrasou obrigado a pensar duas vezes antes de ir para um jogo defutebol. Será que o prazer de andar a correr atrás de uma bolavale o risco que se corre!?? Mas também vamos andar a vida inteiracom medo que nos aconteça o pior?? Estas duas perguntas são aquelas que mais vezes tem surgido na minha microscópica cabeça!Este tipo de azar, fado, destino, casualidade, o que lhe queiram chamar, é muitas vezes motivo de reflexão de hábitos, valores,enfim é algo que nos marca profundamente e que nos faz ver a vida de um modo um pouco diferente. O ser humano tem o costume de planear a vida, propor metas a sí próprio, e com um simples clique, todos os sonhos que temos connosco vão por água abaixo.

A única conclusão a que chego é que nós não devemospreocupar demasiadamente com a vida nem opostamente nos devemosdesleixar, mais uma vez devemos encontrar o equilíbrio, devemosviver de modo responsável, conscientes dos nossos objectivos, masnunca de uma maneira obcessiva, demasiadamente esperançosa, porqueaquilo que dizemos ser resultado do azar, destino, fado, o quemais lhe agradarem, é capaz de acabar com todos os nossosobjectivos, metas que nos tinhamos planeado alcançar e remete-nospara um mundo completamente diferente...