2008/02/05

Lutas ao vento...

-Onde foste ontem?
-Não sei, acho que não fui a lado nenhum, no entanto não me recordo de ter parado um momento que fosse.
-Mas então e por onde andaste?
-Andei a correr atrás de mim, com medo de ser apanhado.

Ficaram os dois com cara de parvos a admirar o semblante risonho que ambos espelhavam na cara. As maças do rosto muito vivas, o sangue parecia correr colérico nas veias, ao mesmo tempo que os olhares eram serenos, cheios de paz. Acho que a palavra é sossego. Conceito raro neste apressado mundo em que vivemos. As pessoas que passavam ao longe mostravam uma nítida pressa, um nervo miudinho que as consome. Pobres almas, esqueceram o que é viver e jogam a vida num corridinho constante. Fazem-me lembrar a figura ridícula que um boi faz quando tenta apanhar a sua própria cauda. Eles escolheram manter o mundo à parte. Decidiram um dia que iriam empurrar todo o stress do quotidiano para longe deles. Escolheram olhar a felicidade mais de perto. Ele repousa deitado sobre o frio do cimento e olha o céu com esperança no olhar. Não sabe o que vai ser o futuro, mas isso também não interessa, está mais preocupado em congelar o tempo no presente em que se encontra. Conta as nuvéns e deixa que o vento lhe beije os cabelos. Sorri. Ela brinca com uma flor e murmura bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer... ele ouve o murmúrio diz em voz baixa, mal te quer, mal te quer... Ela atira a flor para longe e deixa que o seu olhar se fixe no arrastar das folhas pelo chão. O vento dá sinal de si e ouve-se um assobio baixo, ela vira-se de frente para a corrente e deixa que o vento a abrace. Sorri e inicia um cantico qualquer. Provavelmente a última música que ouviu no leitor de mp3. Ele fecha os olhos e tenta respirar a voz melodiosa enquanto ouve o som do silêncio. De repente cansa-se e levanta-se, ele olha para os cabelos que esvoaçam e dirigi-se devagar para trás de um muro vizinho. A música acaba e ela abre os olhos. A expressão muda. O ar sereno transforma-se num sorriso maroto. Dá duas voltas sobre si mesma e desata a rir. Para onde foste desta vez meu palhaço? Fez-se silêncio. Ela voltou. Sabes? Tou muito melhor sozinha. Antes só do que mal acompanhada... Seu gay! Ele ri-se e denuncia a sua posição! Ela dirige-se silênciosamente para o local onde lhe pareceu ter surgido o som Sabes uma coisa? És muito mau a jogar às escondidas!. Ele supreende-a por trás gajas, vê-se logo que não entendem nada de estratégia militar. Sorriem de um modo deliberadamente parvo, ele porque adora que as partidas que engendra tenham sucesso e ela porque detesta fazer figura de parva mas não gosta de dar o braço a torcer.
-Saiste-me cá um artolas!
-Oh tadinha, vai fazer beicinho?
-Não, achas? Mais depressa te dava um murro no focinho.
-Oh não eras capaz. Não agora que acabaste de “tratar” das unhas.
-Tens razão um pontapé na cara se calhar era melhor ideia.
Ele ri-se, ela dá-lhe um beijo.
-Então? Mas que tipo de luta é esta? Jujitzu?
-Não é judo, eu sempre gostei de agarrar!
Ela ri-se e agarra-o com força.
-Olha lá não me rasgues o “kimono” que eu não tenho aqui segundo equipamento e a casa ainda fica longe.
-Ah não te preocupes a gente não precisa de equipamento para lutar. Gosto do conceito luta corpo a corpo no sentido literal da coisa ...