2008/04/06

Recortes

Onde andas tu? Às vezes procuro-te nas sombras do dia, outras vezes na claridade da noite. Pergunto a mim mesmo o que será de nós daqui a dez anos, o que será que estarei a fazer, o que estarás tu a fazer. No frenesim da noite escondo aquilo que sou debaixo de um sorriso volátil, sento frequentemente em bancos frios e sinto o ar que me envolve, é um sopro barulhento e com cheiro a cachorro, é um misto de alarido, um estilhaçar de recordações que me tira forças. O constante tic tac na nossa vida altera constantemente o rumo daquilo que temos, somos e pensamos. Eu gosto deste tic tac, dá-me esperança e força de viver. É bom saber que temos a possibilidade de acordar um dia e o nosso mundo mudar completamente. Gosto de sair contigo, de me rir durante horas a fio, de partilhar os poucos momentos que temos juntos com uma cumplicidade inevitável. É bom saber que vais estar sempre comigo, afinal de contas a gente já se conhece desde o quinto ano. Naquela altura ninguém suportava o nosso sotaque e acabávamos por andar sempre juntos. Os anos passaram e com ele vieram novas vivências, centenas de pessoas atravessaram os nossos caminhos, uns mais importantes outros menos, mas tu estiveste sempre presente, mesmo quando não estavas. Nunca depositei expectativas em ti e tu nunca paraste de me surpreender. Contigo as coisas foram sempre de uma facilidade incrível. Nunca foste hipócrita nem mimado e tens uma visão da vida minimamente realista, perspectiva essa que faz de ti uma pessoa humana, bastante compreensiva e fundamentalmente razoável. Tens uma imaginação incrível e satirizas tudo o que podes, mas preservas uma seriedade ímpar no que diz respeito aos valores fundamentais. A tua veracidade é unicamente igualada pela constante vontade de rir e fazer rir. Nos momentos menos bons da minha vida estiveste presente com a tua musicalidade típica. Os sons sempre foram boa companhia, mas em certas alturas tu conseguíste ser a única companhia melódica. Ao acordar de manhã lembro sempre recortes do meu passado, mas de todos os pedaços o único capaz de se repetir eternamente é o teu...