2007/09/10

Jeremias o Fora da Lei...



Vou falar-vos de um curioso personagem
Jeremias o fora da lei
Descendente por linha travessa
Do famigerado Zé do Telhado

Jeremias dedicou-se desde tenra idade
Ao fabrico da bomba caseira
Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado
Para Jeremias nada de assemelha

À magia da dinamite
A não ser, talvez, o rugir apaixonado
Das mais profundas entranhas da terra
E só quando as fachadas dos edifícios públicos

Explodirem numa gargalhada
Será realmente pública a lei
Que as leis encerram
Há quem veja em Jeremias

Mais uma vítima da sociedade
Muito embora eu tenha a esse respeito
Uma opinião bem particular
É que enquanto um criminoso

tem uma certa tendência natural para ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões
Para se poupar.
Porque nunca foi a ambição

Nem a vingança que o levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça
Tentar alterar a constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo

Para lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo
E por vocação
Jeremias gosta do guarda-roupa negro

E dos gemidos do fora da lei
Gosta do calor da água ardente
E de seguir remando contra a maré.
Gosta da maneira como os homens respeitáveis

Se engasgam quando falam dele
E da forma como as mulheres murmuram
Fora da lei
Gosta de tesouros e mapas

Sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou
Gosta de brincar com o destino
E nem o próprio inferno o apavora
Não estando disposto a esperar

Que a humanidade venha alguma vez a ser melhor
Jeremias escolheu o seu lugar
Do lado de fora
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora…





Jorge Palma...

Beijo no espectro da palma


Passeias como fogo brando
Por entre as malhas da roupa que trago vestida
Aquecendo o sótão onde me escondo.
Devolves-me paz.
Entregas-me de mão beijada
A mão trémula e húmida
Sopras-me ao ouvido sorrisos
Que trazes no teu olhar
Rodas e escondes o rosto
Mostras a fraqueza que não tens
Rodas de novo devagar
Expondo tudo o que és
Num movimento modular
És o trampolim onde salto
Em direcção à lua
A auto-estrada à felicidade
Que não é minha, nem é tua
É a mais bela cidade
No país do sentir
Um hino na verdade
Mais um prazer, um sorrir
Um lugar que me acalma
Um beijo no espectro da palma…