2007/10/09

Vindima

Cedo, alvorada, sono, cama. Ainda não eram 7 horas quando fui acordado. Vindima, foi dia de vindima, neste caso a do meu pai. Se fosse há um ano atrás acordar a esta hora iria ser certamente um processo bem mais doloroso, não foi o caso. Acordei quase de imediato, desperto e cheio de vontade de trabalhar, e ainda bem que assim foi porque o dia foi muito, muito longo…
O pequeno-almoço foi tomado logo a seguir ao levantar da cama, comi um pão com doce de figo acompanhado pelo típico café com leite, que a minha mãe faz desde os primórdios do universo. Enquanto comia a minha mãe tratava dos petiscos que iriam ser servidos durante o dia de trabalho,



O passo a seguir desta missão consistiu em vestir a roupa mais foleira e os sapatos/sapatilhas mais rotos que tivéssemos em casa para o trabalho no campo. Claro que o meu pai e meu tio (o irmão do meu pai) como profissionais da coisa que são foram equipados com as típicas galochas e roupas já preparadas para o efeito, ou seja camisolas, calças e camisas rotas. Depois de estar minimamente preparado para o dia de campo fomos buscar o meu tio Zé a casa. Na verdade não foi só ele que fomos buscar, trouxemos também 6 cestos uma escada e um tubo (daqueles que se usam para canalizar esgotos, que ainda não entendi para que serviu, se é que iria ter alguma utilidade) . Os cestos e o tubo couberam na carrinha sem grandes problemas, no entanto a escada foi sujeita a uma operação típica de um “Portugal no seu melhor”. Ainda bem que não apanhamos a polícia pelo caminho porque levar uma escada presa por fitas das caixas de bacalhau não me parec ser o método de transporte mais seguro



Passado alguns minutos chegamos à quinta e a vindima começou pouco minutos depois. O staff era constituído por 4 elementos, eu, o meu pai, o meu tio Zé e o meu tio Avelino. Os três senhores vindimavam e desempenhava a tarefa de burro de carga, basicamente estava responsável pela muito nobre função de carregar cestos de uvas e de as rilhar. Este ano as uvas eram muitas


e estavam bastante doces. O dia foi tudo menos monótono. O trabalho não deu tempo para isso. O meu pai tem uma maneira muito peculiar de trabalhar na vindima. Basicamente apanha uvas como se o campo não fosse dele. Dá impressão que está a roubar alguma coisa. Sobe escada desce escada, chama para lhe esvaziarem o cesto sempre com uma pressa impressionante. O meu tio Zé é um verdadeiro senhor. Sempre na tanga. Quando diz qualquer coisa é sempre uma boca, normalmente o meu pai é quem as ouve. O dia foi de partir a rir por causa deste ex militar do ultramar (e não tem amor de mãe escrito no braço, nem Angola 74, felizmente). Até às 11 horas o dia uma tremenda confusão. Eu para além de andar com os cestos às costas ainda tinha de separar as uvas brancas das pretas. Parece trivial isto, pois mas não é! O que difere uvas brancas de uvas pretas não é o serem brancas ou pretas, porque havia uvas pretas que pela catalogação do meu pai eram brancas. Pior, passado algum tempo reparei que cada um dos três tinha uma definição para uva branca e uva preta. Eu andava meio perdido, de um lado para o outro a chatear o meu pai acerca da sexualidade dos cestos de uvas. Não havia lógica nenhuma na apanha, as vides de uva branca estavam misturadas com aquelas que iriam fazer vinho tinto e foi um despiste total. Apesade tudo e de muito chatear o meu pai, a missão foi levada (dentro dos possíveis) a cabo. O cesto a seguir é de uvas “brancas”


E aqui o cesto pronto a rilhar



A indústria de transformação era constituida pelos seguintes elementos, um lagar



Um cesto para onde escorria o vinho proveniente das uvas rilhadas,



E uma cuba onde se colocava (por via de baldes) o vinho que ia ficando depositado no cesto,

Muito simples o mecanismo! Bem mais reduzido que o da super bock, não!?
Passado algum tempo nesta rotina muito interessante, e que mais tarde me viria proporcionar um ligeiro ardor no ombro, vá-se lá saber porquê, veio a hora do "lanche" matinal,

Eu quando vi isto fiquei com a errada ideia de que este seria o nosso almoço, até porque já eram cerca de 11:30 e a gente já tinha cerca de 4 horas de trabalho nas costas. Mas passado cerca de duas horas fomos surpreendidos com mais um reforço,

O resto da tarde foi passado muito mais lentamente. Os dois manjares começaram a ter consequências no nosso desempenho, veio aquela moleza indiscritivel que faz com que a gente só se sinta bem encostado a qualquer coisa. Estar de pé era simplesmente desagradável. Quando tinha uma oportunidade para estar quieto aproveitava para registar fotográficamente aspectos que considero interessantes. Um dos pontos que acho importante referir prende-se pelo estado da industria de cabides portuguesa, está no seu melhor nível,

Se a industria do cabide se apresenta como o motor económico por estas bandas, por outro lado o comércio das cabaças também não lhe fica atrás,



são cada vez mais os bebedos a quererem recordar o sabor suave do álcool enqanto recordam façanhas do ultramar.
O dia acabou tarde, muito tarde, foi longo confesso, mas acabou em beleza, com umas pernas cheias de comichão, as unhas dos pés e mãos todas pretas, e uma fome desgraçada...

2 comentários:

Catsone disse...

Era o binho, o que eu mais adorava!
E há gente, da cidade, que anda a pagar para fazer vindima. Teu pai que rentabilize a vinha...

Balhau disse...

Ele a vindima rentabiliza bem! O vinho é que nem por isso! Vou começar a organizar umas festas à custa do binho do meu pai, sangria é sempre bem vinda...