2007/10/03
É sempre da mesma maneira...
É sempre da mesma maneira. O corpo a início quase que chora com vontade de ficar quieto, mas há sempre algo mais forte que me move, que me impele precisamente na direcção contrária. O frio, a chuva, o cinza do céu são razões mais do que suficientes para convencer o comum mortal a repousar tranquilamente no leito de uma cama. Há muita gente que não entende. Eu entendo esta gente. Afinal de contas que prazer pode advir do frio da chuva e do sorriso triste das nuvens? Numa primeira análise somos todos convidados a concordar que o recanto iluminado por uma lareira é o melhor sítio para passar uma tarde, uma noite. Porquê sair em procura do vento? Porquê correr em direcção ao nevoeiro cinza que me abraça? Porquê beijar a chuva de olhos fechados e respirar o frio molhado que me enrijece as entranhas? Puro masoquismo para muitos! Aventura para outros. Prazer para mim.
É inacreditável o número de mundos que visito durante este passeio de sensações. De todas as vezes que o faço visito um planeta diferente um corpo celeste só meu. Salto de galáxia em galáxia em busca das fronteiras do universo, do meu universo. Viajo à velocidade da luz e sinto o tempo parar, nestes breves momentos eu sou um tudo escondido dentro dum nada. Sinto-me sozinho e único, sinto-me bem. O suor funde-se nas gotas que insistem em percorrer toda a ponta de corpo que tenho, sinto na pele um calor aconchegante, uma energia maior, que reage ao frio externo, uma vontade inacreditável de acordar para a vida, de a agarrar. Sorrir, correr, saltar. Aos poucos vou regressando desta viagem. Vou deixando gradualmente o turista que vagueia pelos meandros daquilo que sou, começo a sacudir os vestígios do ser alienígena que fui, resultado da mutação que vivi, que vivo todos os dias. Reabro os olhos e engulo o frio. Sorrio alegremente enquanto sopro um ar quente de esperança. Volto de novo ao meu lar e caio em mim, recolho e deito-me cansado, quente, feliz. Levo comigo o sono e a viagem que fiz, adormeço e recordo tudo num sonho, acordo mais tarde e sorrio outra vez.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário